Casa JMMA - Costa Nova do Prado - Ílhavo
Projecto de Raiz





descrição do projecto
Do Conceito…
“(…) projectar, planear, desenhar, não deverão traduzir-se para o arquitecto na criação de formas vazias de sentido, impostas por capricho de moda ou por capricho de qualquer outra natureza. As formas que ele criará deverão resultar, antes, de um equilíbrio sábio entre a sua visão pessoal e a circunstância que o envolve e para tanto deverá ele conhecê-la intensamente, tão intensamente que conhecer e ser se confundem (…) ”
Fernando Távora in Da organização do espaço
A Casa na Costa Nova implanta-se na zona sul do lugar a uma cota alta, num terreno com uma pré-existência que desconfortavelmente “afunda” perante a envolvente “marginal”, expondo a topografia original do terreno.
A pré-existência é uma construção unifamiliar, à época modesta, de sistema construtivo tradicional misto com adobes e materiais pobres, e devoluta. Propõe-se a demolição.
O lugar é complexo, de arquitecturas populares dominantes e onde a homogeneidade do todo é o resultado do somatório da heterogeneidade das partes. A malha urbana, densa, intrincada, oferece na realidade conforto de Bairro, predispõe-nos ao estar e ao ser do lugar. Contudo, a ausência de modelos não contribuiu para uma solução mais imediata, assente em princípios e arquitecturas dominantes, ao contrário, procurou-se no histórico, na viagem ao passado, os princípios que alavancam a proposta.
O palheiro tradicional. Originários da região e onde as “pessoas do mar”, por motivos meramente práticos, começaram a construi-los e a usá-los como armazéns para guardar redes e outros materiais de pesca.
É em finais do século XIX que começam a aparecer na Costa Nova. A Barra do Porto de Aveiro fixa-se e provoca a mudança das famílias dos pescadores de ílhavo para a zona da Costa. Os palheiros ganham nova vida com as suas fachadas pintadas com coloridas riscas e os seus interiores remodelados com as divisões necessárias.
Contudo, eram inicialmente sem tratamento, os palheiros eram da cor da madeira que os materializava. Formas de os proteger contra os elementos naturais fizeram com que fossem sendo revestidos de um composto à base de óleo de peixe aos quais iam sendo acrescentados pigmentos naturais. Assim, os palheiros surgem geralmente vermelho ocre e preto.
É nesta dimensão da crueza da forma e do material que se fundamenta a proposta de arquitectura.
A uniformização plástica dos elementos e a imagem despida da construção simples do palheiro foi explorada. A volumetria surge tão simples quanto a original, reinterpretaram-se elementos, a madeira está presente, na protecção e na plástica, as riscas são sugeridas na fachada, com a mesma madeira crua. O telhado simples de duas águas. Do ritmo constante da camarinha de cobre que se propõe evoca-se a resistência do material ao tempo e o ritmo das tábuas pregadas, do envelhecimento do metal evoca-se os óleos que impregnam a madeira e que lhe conferem tonalidades e variantes. Na simplicidade e pragmatismo da forma de hoje encontramos a forma do passado.
Esta Casa é agora o novo palheiro. Uma reinterpretação na desconstrução, sem preconceito e desprovida de pretensiosismos. Diferente no ser mas equivalente ao legado no sentir. Uma inspiração numa construção tradicional com profundas raízes culturais que gerou um elemento de expressão forte e que, estamos em crer, contribuirá para a identidade do Lugar...