O construído é Natureza…
A habitação do Rio Ázere nasce pela inabalável paixão de um jovem casal pelas terras de Valdevez e pela incansável vontade de trocar uma rotina acelerada e citadina pela calma da natureza e o verde do campo.
Facilmente sentimos que qualquer intervenção que aqui pudesse surgir teria que ter a subtileza de se integrar, sem competir com toda a sua envolvente, vivendo numa completa harmonia e comunhão com as preexistências do local (ruína, rochas e rio), privilegiando a proteção dos recursos naturais e paisagísticos existentes, tentando formar no seu conjunto um património natural que fosse sensível no ponto de vista ecológico, paisagístico e ambiental.
A ideia inicial passou pela tentativa de dissimular todo o “cenário construído”, evidenciando que, após a alteração do edifício, houvesse o mínimo de intervenção humana.
A existência no local de uma ruína, absorvida em parte pela própria natureza (o que lhe confere alguma vida), com uma presença simbólica elevada fez-nos, desde o início, ambicionar que a sua memória fosse mantida, preservando-a e projetando toda a habitação em zona adjacente à pré-existência. A implantação é dissimulada, e surge a uma cota inferior para que não haja interferência na sua relação de convivência com a história e simbolismo do local.
O elemento ruína, de elevada expressão cénica, passa a ser o ponto de entrada para o terreno, estruturando o percurso que que nos levará até ao interior da habitação.
Este percurso “escondido”, articulado com um pátio à cota baixa no interior da ruína, remete-nos a uma arquitectura crua, vernacular e cavernosa que nos convida à passagem para o interior da habitação pelo subsolo, contemplando outro elemento de elevado valor cénico, também pré-existente no terreno, a rocha.
Tenta-se que todo o percurso estabeleça uma ligação entre o passado e o presente, relacionando-os entre si.
Convidar a ruína, a rocha e o terreno a participar e não alterar as suas condições foram os princípios orientador que julgamos beneficiar o todo da paisagem envolvente e a salubridade do construído e do não construído.
O projecto procurou a Não existência do novo, procurou a manutenção do local, o princípio mas ao mesmo tempo o fim que se nos apresenta pela natureza.
Assim como a ruína deixou de ser arquitectura para passar a ser um elemento integrante da natureza, a habitação adquirirá um papel natural no território diluída no terreno, paisagem e vegetação