Casa Mindelo - Projeto de Raiz - Mindelo - 2021
Do conceito...
A ideia para o projecto da casa de Mindelo parte do desafio proposto pelo cliente para apresentar um projecto de uma casa que pudesse ser energeticamente autónoma, independente de ligação à rede pública de abastecimento de energia, e que, para isso, integrasse como condição absoluta uma área mínima de 160m2 de painéis Fotovoltaicos.
Um programa bem definido, relativamente extenso e com alguma tecnologia implícita, obrigava também à procura por uma solução transversalmente eficiente, a ponto de equilibrar, na dimensão do possível, os custos de construção.
Partindo destes pressupostos, a casa estruturou-se numa construção geométrica modular e de repetição, que formou um objecto “bloco”, de cobertura única, inclinada, privilegiando o Sul, permitindo tirar a maior eficiência dos 160m2 de painéis Fotovoltaicos.
A presença de uma infra-estrutura de captação de energia solar com uma área tão considerável, transportava para a realidade do objecto um elemento de grande impacto estético, cuja existência deveria, por nosso princípio, ser sempre assumida e não ocultada.
Entendeu-se, que explorando e admitindo o impacto desse enorme plano escuro e vítreo, permitindo a sua relação com uma peça modular de repetição, encontraríamos a imagem da arquitectura da casa.
Assim, a ideia sustenta-se na fusão entre a “apropriação” arquitectónica e integração do grande plano de fotovoltaicos com a repetição de um módulo devidamente estruturado e versátil na gestão do programa.
É, nesta dimensão do pensamento arquitectónico, que surge, com alguma naturalidade, o desenho desta peça singular. Apresenta-se propositadamente monolítica, impõe-se no lote voltada a sul e é revestida na totalidade por uma “pele” de grande impacto estético, gerando uma certa abstratização que, eventualmente, testa e provoca os limites da ideia da Casa contemporânea.
Este volume abstracto, de “pele” única e contínua, revela pela natureza dos vãos, igualmente regulares, a forma como a casa se expõe ou se esconde totalmente, e se adapta às variações de luz e clima impostas pelas mudanças sazonais.
A presença do elemento água em diálogo com a estrutura arquitectónica marca excepções. Manifesta-se na piscina e no lago, marcando, respectivamente, a relação com o vazio do alpendre e a relação com a transparência da estufa.
É neste diálogo de planos, de cheios e vazios, de transparências e opacidades, que se procurou um subtil equilíbrio entre uma imagem muito forte, volumetria densa e de relativa imposição, e uma ligação delicada à terra, ao plano de chão e ao “bosque” de caducas a sul...